domingo, 30 de setembro de 2012


No calcanhar dos Incas
(clique nas imagens para ampliar)
Conforme prometido, hoje passo a ampliar os temas abordados nesse blog para incluir outras atividades além do ciclismo, mas sem perder o propósito que é tentar, sempre, relacionar o que vemos ou fazemos com a historia que está por detrás. Não sou expert em aventura, mas gosto de compartilhar os destinos interessantes por onde passo.

Hoje vamos caminhar por uma pequena parte da historia da civilização Inca, cujo império se estendia por todo o território do Peru e porções do Equador, Chile e Argentina, entre aproximadamente 1200 e 1533.

Fiz, no começo de setembro, durante 5 dias, a Trilha Salkantay, um “trekking” (caminhada) por uma trilha Inca que tem início nas proximidades da montanha nevada que dá nome à trilha (mais precisamente na cidade de Mollepata) e chega em Machu Picchu, perfazendo um total de 98 km, dos quais aproximadamente 60km foram percorridos andando e os demais em van - particularmente nos trechos onde a trilha passava por estradas de terra mais movimentadas (no começo e no final)...o que acabei achando bom, pois ganhamos tempo para aproveitar Machu Picchu por dois dias...

 Início da caminhada com o Salkantay ao fundo.

Iniciávamos os dias bem cedo, acordando às 5h30 para começar a caminhada às 7h – não é tão rápido todo o grupo “tomar banho”, fechar a mala, arrumar os itens da mochila de ataque, arrumar a barraca, tomar café, etc. Caminhávamos então até a hora do almoço e, após a parada para almoçar, até o fim da tarde, chegando ao próximo acampamento.

Grupo caminhando...

Segundo estudiosos havia mais de 40 mil quilômetros de trilhas Incas por todo o império, o que possibilitava a distribuição da produção da agricultura, encontros para as festividades aos deuses, a comunicação entre povoados, etc. O caminho de Salkantay era só mais um desses. A trilha é assim, sempre por encostas de altas montanhas, cruzando vales e rios, subindo e descendo:

Andando nas nuvens, talvez a uns 4400m

Cuidado pra não escorregar...

Cruzando rio

O horizonte por todo o caminho é bem peculiar por conta das altas montanhas, (sempre com mais de 3 mil metros) com cume triangular, típico das formações geológicas mais recentes:

Picos...

Ao contrário da trilha inca “clássica”, feita por um caminho calçado da época do próprio império e passando por vários sítios arqueológicos, a trilha de Salkantay é privilegiada e diferente por passar por diferentes paisagens, sendo possível notar as diferenças de fauna e flora a medida que a caminhada avança:


No cume da trilha, com o Salkantay ao fundo (nublado...), a 4656m (pelo meu GPS a placa estava errada...)


Salkantay, por alguns segundos enquanto as nuvens passavam por ele

A medida que a altitude diminui a vegetação começa a aparecer:

 Altitude mais baixa e vegetação aparecendo...

Pequeno sítio arqueológico no caminho

O quarto dia foi reservado para uma caminhada de 14 km pela ferrovia onde passa o trem até Águas Calientes (povoado ao pé de Machu Picchu), começando de onde estão construindo a nova hidrelétrica:

Pelas margens da ferrovia...  Após uns 10km já é possível avistar construções de Machu Picchu bem no alto da montanha, parecendo bloquinhos de brinquedo empilhados...

O acesso a Machu Picchu é possível de duas formas: por ônibus ou por uma loooonga escadaria, talvez com quase 1 quilometro e meio de subida por degraus. Claro que uma parte do grupo optou pelo modo mais hard:

Pela via da escadaria...

A medida em que subimos a cidade começa a aparecer...


Bom, acho que todos já viram aquelas fotos clássicas de Machu Picchu, então vou destacar abaixo algumas outras maravilhas escondidas (ao menos dos livros e do Google):

Uma das pedreiras de Machu Picchu, com destaque para uma pedra que estava sendo "cortada", possivelmente com estacas de madeira que iam inchando quando molhadas...

"Painel" talhado na própria pedra representando montanhas ao fundo

Pedra abandonada, com um suporte que era utilizado para ser rolada/puxada. Outro indício de que a cidade teve que ser abandonada...

Vista para a parte rural da cidade de quem olha pela parte urbana.

No dia seguinte, o segundo que teríamos visitando Machu Picchu, subimos até o topo da montanha que leva o mesmo nome. Creio que deve ter mais de 2 quilômetros de degraus, todos da época do império Inca. Lá de cima valeu a vista para todo o vale e também de onde começamos, o Salkantay:

Vale onde está Machu Picchu, foto tirada do cume da montanha de igual nome.

Do cume, com o Salkantay ao fundo, de onde começamos...

 Ao final do quinto dia (o segundo em Machu Picchu) regressamos a Cusco, de onde parti no dia seguinte para Nazca. A cultura Inca foi uma grande absorção de muitas outras culturas e saberes muito mais antigos. Seu império foi relativamente curto (1200 a 1533), mas muito antes existiram povos que dominaram saberes com tecidos, metais, cerâmicas, arquitetura e construção, astronomia, etc.

Os povos Nazca ocuparam uma grande extensão de um altiplano desértico até o litoral, e um dos maiores mistérios até hoje são as suas famosas linhas: desenhos com dezenas de metros de extensão feitos em sulcos de 15cm no deserto, visíveis apenas bem do alto:

Embora haja centenas de desenhos por toda a região o sobrevoo turístico passa por uma dúzia, sendo comum ainda hoje descobrirem novos desenhos e formas geométricas.

 O famoso "colibri" ou "beija-flor"

A atual cidade de Nazca guarda ainda uma grande obra de engenharia que são os aquedutos de Cantailloc: um sistema de captação de água de vales distantes, dezenas de quilômetros, para irrigação das áreas mais desérticas. Com a desertificação do que era então um campo mais fértil houve a necessidade de soluções de engenharia para possibilitar a agricultura:

Aquedutos que seguem em direção às montanhas, sumindo e reaparecendo.

Detalhe dos funis, por onde era possível acessar o canal de água para realizar reparos entre um funil e outro

Os Nazcas eram grandes ceramistas e dominavam a técnica da mumificação, mas saqueadores destruíram centenas de tumbas atrás das cerâmicas que valem centenas de dólares
Uma tumba reconstituída


Superfície do deserto com tumbas. Todas essas ondulações são tumbas que foram saqueadas.

Enfim, espero que este longo post tenha transmitido um pouco da historia por detrás de onde andei pelo Peru e que a narrativa e fotos tenham entusiasmado pessoas a fazer a Trilha Salkantay e conhecer o Peru. Para realizar a trilha recomendo que seja contratada uma agência local em Cusco (ou mesmo alguma aqui no Brasil que opera o roteiro) pois é essencial o suporte com guia, refeições, mulas etc. Para os mais experientes e aventureiros é só seguir o track.

Track para download e mapa para ser visualizado em:

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