São Paulo verde e distante: 3x APA
Capivari-Monos, Serra do Mar e Linha Mairinque-Santos.
No
último sábado estive pela terceira vez na região da APA Capivari-Monos (uma
área de proteção ambiental), no extremo sul da cidade de São Paulo,
região de Marsilac, a uns 40 km da minha casa (região do Pacaembu). Quem
“descobriu” as várias opções de pedal por lá foi o Xandoq. Em maio nós dois
fomos pedalando de Parelheiros até a Estação Evangelista de Souza, passando
pela cachoeira de Marsilac e retornando pela estrada da barragem, fazendo um
círculo.
Eu e Xandoq no marco da entrada da APA Capivari-Monos
Banco de areia e rio na cachoeira do Marsilac. Pouco volume de água por conta do período seco de maio.
Como não sabíamos que as
distâncias eram longas nem que é comum o tempo mudar de repente, ficamos bem
exaustos e por sorte encontramos um mercadinho para um pit-stop antes de
iniciar o trecho da volta:
Desta primeira incursão na região
da APA ficou a vontade de voltar outras vezes para conhecer e explorar melhor a
região. Em junho deste ano voltamos para a região com um grupo maior de
amigos, com um espírito mais aventureiro e mais preparados para
encarar um sobe e desce insano. O objetivo era chegar até o Núcleo Curucutu do
Parque Estadual da Serra do Mar, de onde, em dias de céu aberto, é possível
enxergar o litoral (Itanhaém). O tracklog deste pedal esta abaixo. Total de 40km mas com muitas e boas subidas.
Iniciamos o pedal rumo ao Núcleo
por um trecho de 3km por uma estrada paralela à linha do trem até a Ponte
Velha, de onde pegaríamos uma estrada de terra até o destino:
A estrada paralela (para
manutenção da linha férrea) durou pouco pois logo se tornou um lamaçal (havia
chovido muito na noite anterior) e resolvemos pedalar do outro lado. O problema
é que logo depois nos deparamos com um trem com uns 100 vagões estacionado e sem estrada paralela. Resolvemos seguir “pedalando” do seu lado por um bom trecho, em meio a cascalhos e
canaletas de águas de chuva:
Resolvemos então cruzar o trem e
voltar para a estrada paralela com o medo de perdermos a saída para a Ponte
Velha (não dava para enxergar a continuação do caminho por conta do trem...).
Na Ponte Velha com ferrovia abaixo, início com forte teste psicológico...
Essa ferrovia é a linha
Mairinque-Santos da Estrada de Ferro Sorocabana (“EFS”). A historia da EFS é muito
interessante: foi criada a partir de uma preocupação de empresários brasileiros
com o monopólio da São Paulo Railway (“SPR”), empresa inglesa que na época explorava
o transporte ferroviário da capital do Estado até Santos. Marcos da SPR estão muito
presentes na arquitetura da Estação da Luz e do complexo funicular de
Paranapiacaba, por onde passei no meu primeiro pedal mais longo, em dezembro de
2011:
Interior da Estação da Luz.
Vista do complexo funicular de Paranapiacaba. Ao fundo um relógio ao estilo "Big Ben".
Torre da Estação Julio Prestes. A linha da EFS chegava bem aqui.
Vista da atual sala de concertos, onde outrora foi um grande pátio de passageiros. Detalhe para o grande vão cercado de enormes colunas.
Na segunda vez que pedalei pela região da APA seguimos até o Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar (ver tracklog
abaixo), onde há uma base permanente com um corpo de funcionários do Parque:
Voltando à Estrada de Ferro
Sorocabana... ela foi criada em 1870 por empresários sorocabanos e teve seu
primeiro trecho inaugurado em 1875 (a SPR iniciou o tráfego em sua linha em 1867).
Abaixo, foto da construção da linha Mairinque-Santos (total de 135 km de extensão)
Arquivo de internet. Não sei se do trecho da Serra do Mar, mas com certeza reflete bem o que deve ter sido a construção da linha como um todo... Época em que só havia pá e mula e sem equipamento de proteção algum.
A EFS se expandiu paulatinamente
a todo o interior do Estado, chegando até Presidente Prudente em 1919, servindo
como importante ramal para exportação da produção de café até chegar em Assis.
O trecho até Santos foi realizado pela primeira vez em 1937, pondo fim ao monopólio
da SPR.
Além do escoamento da produção agrícola
(principalmente o café) os ramais da EFS também transportavam passageiros. Em
nosso pedal passamos pela Estação Evangelista de Souza, desativada em 1997:
Estação Evangelista de Souza
Foto de um antigo vagão de passageiros abandonado nas proximidades.
Segundo pesquisa que fiz na
internet a construção da EFS em seu ramal para a descida de Santos foi feita em
duas frentes, uma descendo a serra e outra subindo. Deve ter sido complicadíssimo
vencer os quase 800metros de desnível, exigindo a construção de túneis com
curvas, a transposição de grotões e abismos por meio de pontes suspensas, e a
travessia de rios:
Foto do túnel 27, o primeiro da descida.
Foto da ferrovia passando por uma grota. Foto do Augusto, que fez uma travessia na região (http://agsts.multiply.com). Acabei não tirando nenhuma pois dava vertigem só de olhar...
Para se ter uma ideia dessa obra,
hoje desliza pelos seus trilhos composições com mais de 100 vagões, puxados por
até 5 máquinas de tração com mais de 4.400 hp cada uma:
Dom e Fernando acenando para o motorista...
Na terceira vez que fui pra região
estive com o Dom e o Fernando, com quem tenho pedalado já há algumas ocasiões.
A proposta era sair de Marsilac, passar pela estação Evangelista e chegar até o
túnel 27, de onde tem início uma trilha para a cachoeira da Usina (ver tracklog
do percurso abaixo). Foi interessante explorar um pouco mais a região e a linha
Mairinque-Santos, ver cenas muito inusitadas (como uma pilha enorme de
dormentes), passar por grotões, adentrar bastante pela Serra e chegar até o
túnel 27
O lado ruim desse “pedal” foi ter
que empurrar muito a bike pelos trilhos pois pedalar no cascalho não é fácil, e
nem nos dormentes, onde a bike fica “pulando”.
Dom e Fernando empurrando a bike, sol forte e muito calor sendo refletido dos ferros e cascalhos.
Dom e Fernando empurrando a bike, sol forte e muito calor sendo refletido dos ferros e cascalhos.
Ficou em aberto conhecer a
cachoeira da Usina Capivari (vimos a entrada dela, mas seriam mais uns 2km de
trilha pela mata) e, futuramente, uma travessia pelas encostas até Itanhaém que
tem início no túnel 24 (a trilha do Rio Branco):
Entrada para a trilha da cachoeira da usina, uns 100m antes do túnel 27.
Abaixo os tracklogs. É possível visualizar na base do google maps sem precisar baixar para o GPS...
Trilha 1:APA Capivari-Monos - Marsilac - Núcleo Curucutu
Trilha 2: APA Capivari-Monos - Marsilac - Cachoeira Usina Capivari
Muito legal, moro próximo e sempre pedalo nessa região
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