terça-feira, 28 de agosto de 2012


São Paulo verde e distante: 3x APA Capivari-Monos, Serra do Mar e Linha Mairinque-Santos.

No último sábado estive pela terceira vez na região da APA Capivari-Monos (uma área de proteção ambiental), no extremo sul da cidade de São Paulo, região de Marsilac, a uns 40 km da minha casa (região do Pacaembu). Quem “descobriu” as várias opções de pedal por lá foi o Xandoq. Em maio nós dois fomos pedalando de Parelheiros até a Estação Evangelista de Souza, passando pela cachoeira de Marsilac e retornando pela estrada da barragem, fazendo um círculo.

Eu e Xandoq no marco da entrada da APA Capivari-Monos

Banco de areia e rio na cachoeira do Marsilac. Pouco volume de água por conta do período seco de maio. 

Como não sabíamos que as distâncias eram longas nem que é comum o tempo mudar de repente, ficamos bem exaustos e por sorte encontramos um mercadinho para um pit-stop antes de iniciar o trecho da volta:

Pit-stop, ainda bem que encontramos essa vendinha. Aprendi a não sair sem um corta-vento, 2l de água e comida energética.

Desta primeira incursão na região da APA ficou a vontade de voltar outras vezes para conhecer e explorar melhor a região. Em junho deste ano voltamos para a região com um grupo maior de amigos, com um espírito mais aventureiro e mais preparados para encarar um sobe e desce insano. O objetivo era chegar até o Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar, de onde, em dias de céu aberto, é possível enxergar o litoral (Itanhaém). O tracklog deste pedal esta abaixo. Total de 40km mas com muitas e boas subidas.

Iniciamos o pedal rumo ao Núcleo por um trecho de 3km por uma estrada paralela à linha do trem até a Ponte Velha, de onde pegaríamos uma estrada de terra até o destino:

 Início tranquilo de poucos metros por uma estrada paralela, logo a coisa piorou...
  
A estrada paralela (para manutenção da linha férrea) durou pouco pois logo se tornou um lamaçal (havia chovido muito na noite anterior) e resolvemos pedalar do outro lado. O problema é que logo depois nos deparamos com um trem com uns 100 vagões estacionado e sem estrada paralela. Resolvemos seguir “pedalando” do seu lado por um bom trecho, em meio a cascalhos e canaletas de águas de chuva:

"Pedal" muito estreito...

Resolvemos então cruzar o trem e voltar para a estrada paralela com o medo de perdermos a saída para a Ponte Velha (não dava para enxergar a continuação do caminho por conta do trem...).

Na Ponte Velha com ferrovia abaixo, início com forte teste psicológico...

Essa ferrovia é a linha Mairinque-Santos da Estrada de Ferro Sorocabana (“EFS”). A historia da EFS é muito interessante: foi criada a partir de uma preocupação de empresários brasileiros com o monopólio da São Paulo Railway (“SPR”), empresa inglesa que na época explorava o transporte ferroviário da capital do Estado até Santos. Marcos da SPR estão muito presentes na arquitetura da Estação da Luz e do complexo funicular de Paranapiacaba, por onde passei no meu primeiro pedal mais longo, em dezembro de 2011:

Interior da Estação da Luz.

 Vista do complexo funicular de Paranapiacaba. Ao fundo um relógio ao estilo "Big Ben".

Curioso que a sede administrativa da Estrada de Ferro Sorocabana e o início de sua linha na Capital ficavam bem próximas ao da São Paulo Railway-SPR (Luz), apenas algumas dezenas de metros. Atualmente o prédio abriga a Secretaria de Estado da Cultura e a sala de concertos Estação Júlio Prestes:

Torre da Estação Julio Prestes. A linha da EFS chegava bem aqui.

Vista da atual sala de concertos, onde outrora foi um grande pátio de passageiros. Detalhe para o grande vão cercado de enormes colunas.

Na segunda vez que pedalei pela região da APA seguimos até o Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar (ver tracklog abaixo), onde há uma base permanente com um corpo de funcionários do Parque:
Queda brusca da temperatura na chegada do Núcleo. Não deu pra ver litoral algum. Na foto eu, Xandoq, Filipe, Mari, Fê, Zé e Danilo. Valeu!

Turma na base do Núcleo.
Vista geral da base, com alojamentos e áreas comuns. Frio e nublado.

Voltando à Estrada de Ferro Sorocabana... ela foi criada em 1870 por empresários sorocabanos e teve seu primeiro trecho inaugurado em 1875 (a SPR iniciou o tráfego em sua linha em 1867). Abaixo, foto da construção da linha Mairinque-Santos (total de 135 km de extensão) 
Arquivo de internet. Não sei se do trecho da Serra do Mar, mas com certeza reflete bem o que deve ter sido a construção da linha como um todo... Época em que só havia pá e mula e sem equipamento de proteção algum.

A EFS se expandiu paulatinamente a todo o interior do Estado, chegando até Presidente Prudente em 1919, servindo como importante ramal para exportação da produção de café até chegar em Assis. O trecho até Santos foi realizado pela primeira vez em 1937, pondo fim ao monopólio da SPR.

Além do escoamento da produção agrícola (principalmente o café) os ramais da EFS também transportavam passageiros. Em nosso pedal passamos pela Estação Evangelista de Souza, desativada em 1997:
Estação Evangelista de Souza

Foto de um antigo vagão de passageiros abandonado nas proximidades.

Segundo pesquisa que fiz na internet a construção da EFS em seu ramal para a descida de Santos foi feita em duas frentes, uma descendo a serra e outra subindo. Deve ter sido complicadíssimo vencer os quase 800metros de desnível, exigindo a construção de túneis com curvas, a transposição de grotões e abismos por meio de pontes suspensas, e a travessia de rios:

Foto do túnel 27, o primeiro da descida.

  
Foto da ferrovia passando por uma grota. Foto do Augusto, que fez uma travessia na região (http://agsts.multiply.com). Acabei não tirando nenhuma pois dava vertigem só de olhar...

Para se ter uma ideia dessa obra, hoje desliza pelos seus trilhos composições com mais de 100 vagões, puxados por até 5 máquinas de tração com mais de 4.400 hp cada uma:

Dom e Fernando acenando para o motorista...

Na terceira vez que fui pra região estive com o Dom e o Fernando, com quem tenho pedalado já há algumas ocasiões. A proposta era sair de Marsilac, passar pela estação Evangelista e chegar até o túnel 27, de onde tem início uma trilha para a cachoeira da Usina (ver tracklog do percurso abaixo). Foi interessante explorar um pouco mais a região e a linha Mairinque-Santos, ver cenas muito inusitadas (como uma pilha enorme de dormentes), passar por grotões, adentrar bastante pela Serra e chegar até o túnel 27


O lado ruim desse “pedal” foi ter que empurrar muito a bike pelos trilhos pois pedalar no cascalho não é fácil, e nem nos dormentes, onde a bike fica “pulando”.


Dom e Fernando empurrando a bike, sol forte e muito calor sendo refletido dos ferros e cascalhos.

Ficou em aberto conhecer a cachoeira da Usina Capivari (vimos a entrada dela, mas seriam mais uns 2km de trilha pela mata) e, futuramente, uma travessia pelas encostas até Itanhaém que tem início no túnel 24 (a trilha do Rio Branco):

Entrada para a trilha da cachoeira da usina, uns 100m antes do túnel 27.

Abaixo os tracklogs. É possível visualizar na base do google maps sem precisar baixar para o GPS...
Trilha 1:APA Capivari-Monos - Marsilac - Núcleo Curucutu

Trilha 2: APA Capivari-Monos - Marsilac - Cachoeira Usina Capivari

sexta-feira, 17 de agosto de 2012


Sobre bikes e cidades: São Paulo e Amsterdam
Sobre bikes e cidades: São Paulo e Amsterdam. Recentemente, inspirado pelo pedal em Campos do Jordão, escrevi sobre a importância de áreas verdes públicas em áreas urbanas para prática de exercícios físicos e atividades de recreação e comentei da existência do Índice de Área Verde da OMS, que ajuda a avaliar se a quantidade de parques e áreas verdes é suficiente para um determinado município ou região levando em consideração o número de seus habitantes.

Hoje quero escrever sobre bikes e cidades com um amigo que pedalou por Amsterdam (o Xandoq). Há alguns meses estive na sala da Diretora de Paisagem Urbana da São Paulo Urbanismo, a Regina Monteiro, quando conheci um modelo de bicicleta patrocinada pelo Itaú que em breve estaria disponível para uso público em diversos pontos da cidade de São Paulo.

A bike propriamente. A Regina me relatou que não foi fácil concebê-la pois envolveu cuidados especiais com as peças e partes para evitar qualquer tipo de acidente com os ciclistas, já que o universo dos que irão utilizar é muito grande e diversificado. O modelo da bike tb se preocupou com acabamento para não rasgar roupas e adotou paralamas para evitar que o ciclista se sujasse em poças d'água. 

Nesta semana, coincidentemente, andando pela região da Av. Paulista, vi um dos 20 postos de entrega e retirada dessa bicicleta que já existem. A ideia é implantar postos próximos uns aos outros facilitando o fluxo das bikes.
Funcionários da empresa trabalhando na instalação da estação para 12 bikes.
Quadro informativo da estação, com mapa da região (com estações) e outras instruções.

Em São Paulo a "Lei Cidade Limpa" teve um efeito interessante ao tornar escasso o espaço para publicidade, obrigando a iniciativa privada a encontrar alternativas - tais como adoção de mobiliário público para conservação e até mesmo o patrocínio de bicicletas. Além do Itaú há outras empresas trabalhando para propor projetos semelhantes. Aliás, aqui merece referência a uma boa sacada da Lei Cidade Limpa: tutelar a paisagem urbana compreendendo tudo que está visível por qualquer pessoa situada em uma área comum do povo - por isso a tutela da publicidade inclusive em bicicletas, p.ex.

Pedalar pela cidade é uma experiência de mobilidade bastante presente na vida das pessoas em muitas cidades do mundo. Meu amigo Alexandre de Barros Rodrigues ("Xandoq") esteve em Amsterdam, eis o seu relato:

Xandoq: Em primeiro lugar, acho importante dizer que foi minha primeira visita a cidade, e fui realmente surpreendido pelo trânsito (não congestionamento) caótico que predomina no local. É uma confusão de bicicletas com motos, carros, ônibus e railway que pode a qualquer momento fazer uma vítima (e eu, desavisado, quase fui uma delas logo que cheguei por lá...)

Amsterdam não é uma cidade grande, e as pessoas (de qualquer idade) possuem o hábito de pedalar. Chega a ser louvável e ao mesmo tempo preocupante deparar-se com vovós que aqui no Brasil talvez manejariam uma bengala, e nos lados de lá estão confiantes pedalando suas bikes.
Centros com muitos pedestres e bicicletas pra lá e pra cá.

E pelo fato da bicicleta ser um costume e um meio de transporte local, é possível dizer que elas são milhares por toda a cidade. Existem diversos estacionamentos para bicicletas, e mesmo quando não há um conglomerado para estacionar, basta haver um poste, uma luminária, ou um ferro qualquer para que lá seja amarrada uma bike.

Na foto, um monte de bike estacionada em praça pública.

Percebi também que existem tantas bicicletas, em sua grande maioria bicicletas muito simples e até velhas, quem tem donos que nem se preocupam em amarrá-las, estando certos de que nenhum atrevido ladrão teria interesse em levá-las. Simplesmente as deixam estacionadas em qualquer lugar, sem uso de cadeado... 
Eu, por exemplo, fui agraciado por esta maravilha abaixo, que peguei alugada no Hotel que eu estava, por absurdos 15 EUROS o dia. Vejam o naipe da magrela:

Bike muito simples... o intuito é pedalar.... As que estão chegando aqui em São Paulo parecem melhores do que essa. E há um detalhe que preciso contar. Logo que peguei essa bike, e montei nela para andar, fiquei procurando o freio da mesma, tendo em vista que não havia manetas no guidom, nem pastilhas acopladas às rodas... Foi só começando o pedal que eu percebi que estas bikes de lá tem freio no próprio pedal, quando voltamos a catraca para sentido contrário ao que está se indo.

Fiz uma primeira parada na região do Voldelpark, e fui conhecer o letreiro famoso que fica perto do museu de Van Gogh. Pessoalmente, ele é menor do que aparenta ser na foto:


Seguindo o percurso, fui rumando sentido a estação central. No meio do caminho é possível passar pelo Leidespleien, onde existe um centro comercial e um cheiro de canabis bem evidente rsrs... Ali parei para almoçar e poder curtir os barcos e pessoas que transitavam pelos canais:
Dai para a estação central, me concentrei mais no pedal para render e chegar logo na estação central, onde pretendia comprar uma passagem de trem rumo à Alemanha. O caminho é semelhante, sempre pela ciclovia e sempre seguindo o mesmo rumo dos railways... O Sol estava bem forte e era mais ou menos umas 14:30h quando cheguei na estação central de Amsterdam:




Foi um passeio bem interessante... La perto da estação central, tive que amarrar a bike para comprar meus bilhetes, e fiz uma pequena caminhada para conhecer um pouco mais do lugares, inclusive o famoso Red Light District, abaixo:
Red Light District de dia, com bikes...

Enfim, foi isso. Espero ter passado um pouco da minha experiência de como foi pedalar em Amsterdam. 

Um abraço a todos,
Lucas e Xandoq


segunda-feira, 6 de agosto de 2012


Sobre bikes e parques e sobre Pedra do Baú. Fui sexta-feira à noite para Campos do Jordão a convite de um casal de amigos, a Mari e o Fernando. Nas outras duas ocasiões em que estive na cidade não fiquei tão atento à variedade de opções de turismo ecológico e de práticas esportivas de modalidade outdoor, o que muito me impressionou dessa vez, sendo um destino muito atraente e recomendável para praticantes de ciclismo, corrida, trekking escalada (na região de São Bento do Sapucaí e Pindamonhangaba), e para aqueles que gostam de contemplar mirantes, cachoeiras, picos, etc.

No sábado fomos pedalar no Parque Estadual Campos do Jordão, também conhecido como Horto Florestal, criado em 1941 e, pelo que li, o parque mais antigo do Brasil. Com uma enorme extensão, possui diversas trilhas e equipamentos de lazer para todas as idades. 
Na entrada do Parque/Horto

A Organização Mundial da Saúde - OMS, órgão vinculado à ONU, recomenda como um índice mínimo de áreas verdes públicas urbanas de 12m2 por habitante (o “IAV”), reconhecendo a importância dessas porções territoriais não apenas para a estética de uma cidade ou para serviços ambientais como drenagem de águas de chuva, mas também para o bem-estar humano por meio da prática de exercícios físicos ou simplesmente como espaço para lazer e atividades lúdicas, além de promover uma melhora na qualidade do ar.
Amigos com detalhe do Horto/Parque ao fundo.

Apenas para se ter uma ideia a cidade de São Paulo possui um índice médio de 2,6m2, que chega a ser muito pior em determinadas regiões, que chegam a ter índices quase próximo a zero. A cidade com melhor índice do mundo é Curitiba, com 52m2. Nova Iorque, Madri, Paris possuem, respectivamente, 23,1 m2, 14 m2, e 11.5 m2. A importância do Índice é justamente constituir numa importante “régua” para aferir a qualidade ambiental e da saúde pública de uma dada localidade, além de permitir o controle dos cidadãos para a melhora desse índice localmente: qual o IAV de sua cidade? como melhorá-lo?

Voltando ao pedal... Como estávamos numa turma grande – nove amig@s – alugamos bicicletas para os demais e fizemos uma trilha curta pelo Horto. Além de bonita e agradável em si, foi ótimo ver como até os mais enferrujados (mesmo) no pedal acabaram curtindo pedalar e usufruir do Parque, uma opção que agradou a todos mesmo na cidade “shopinizada” do roteiro de inverno...


No fim da tarde um grupo mais animado resolveu voltar pedalando uns 10km de volta para casa (valeu Fer, Mari e Gustavo), contando com o carro de apoio segurando o transito rsss (Marina, Luisa, Murilo e Ariane):


No domingo acordei cedo e para aproveitar o privilegio de estar numa cidade cheia de coisa bacana pra fazer resolvi pedalar até a Pedra do Baú, o que daria uns 60 km (total de ida + volta). Como o tempo para regresso estava apertado – para não abandonar todo o pessoal da casa... – fui até metade do caminho e voltei. Depois de encarar uns 25km do percurso, contando uns 10km de subida, resolvi abandonar a tentativa e regressar. Trouxe de volta uma enorme curiosidade de numa próxima tentativa curtir a Pedra do Baú (vou ficar devendo para uma próxima a foto da Pedra...).


A Pedra do Baú foi considerada, em 2011, um Monumento Geológico pelo Conselho Estadual de Moumentos Geológicos – CoMGeo-SP, órgão destinado a pensar ações para proteção do patrimônio geológico do Estado – por exemplo para boa gestão, incentivo a visitação, estabelecimento de geoparques, implantação de sinalização e placas indicativas, etc. A Pedra do Baú é acompanhada por outros quatro Monumentos, dentre eles o Varvito em Itu e a Rocha Moutonné em Salto.
Subindo, subindo; visual bonito ao longo da estrada para a Pedra.

Saindo do Horto Florestal e indo até a Pedra do Baú. O pedal é boa parte por asfalto, o que facilita, mas a subida até a Pedra é bem exigente...